Versos de linho e organdi

Acordo com a primavera se insinuando

por entre a luz prometida

aos raios do sol e à flor de fogo

que arde nesta manhã de setembro

Os últimos pássaros que migraram no inverno

agora se vão rumo a longínquas e tardias ilhas

onde um céu úmido de azuis e de fulvos instantes

os espera emergindo das tardes florescendo nos vergéis,

nos campos de trigo

que ondulam, inermes,

curvados aos ventos

que arrastam o dia,

utópico,

divino nas indesnudáveis manhãs

Vão como se uma voz acordasse e os avocassem

sendo imperioso partir

deixando na árvore a singular solidão dos ninhos

deixando nos caminhos extenuados dos ventos

o murmúrio do canto primordial acordando as manhãs

Levando consigo a semente de um sol

amarfanhado entre verdes nevoeiros

Levando a fluida essência do galho

onde o demiurgo pôs uma flor

e as sílfides confiaram os segredos de arcanos invernos

enleados às canções que adormeciam as tardes

Lá se vão os pássaros,

poesias declamadas,

versos de linho e organdi,

rumor de asas solfejando o silêncio,

pequenas carícias que,

inadiáveis,

vão-se embora

como os rios, os ventos e os homens