QUILOMETRANDO A VIDA
Com a professora vida aprendi
O que só ela pode ensinar
São os espinhos que nos ensinam
Onde melhor pisar
Sem berço de ouro
Sobrenome ou brasão
O trabalho logo cedo
A calejar as próprias mãos
Descalço pisei o chão
Sem formalidade
Pus sapato e paletó
Pro asfalto da cidade
Sem o polimento devido
Ninguém me percebeu
Melhor foi assim
Pude ser mais eu
Com poder de decisão
Vi-me de amigos cercado
Quando ele se foi
Seguiu bem acompanhado
Como desconfiava
Eram amigos do cargo
De olhos em benefícios
Enchiam-me de afago
Por fora cicatrizes indicam
Que ferimentos aconteceram
Mas por dentro só o ferido sabe
Se eles arrefeceram
Onde há cinzas o fogo já passou
Nada mais pode ser feito
Água tardia não apaga
O que o tempo fez do seu jeito
Percorri caminhos que escolhi
Outros que não busquei
Em alguns trechos me perdi
Noutros me encontrei
Às vezes preciso foi
Sabendo ser dura a lida
De bobo da corte estar
Para quilometrar a própria vida
As marcas do tempo atestam
Que muito já caminhei
Se o tempo passado é longo
Quanto ao futuro não sei