QUILOMETRANDO A VIDA

Com a professora vida aprendi

O que só ela pode ensinar

São os espinhos que nos ensinam

Onde melhor pisar

Sem berço de ouro

Sobrenome ou brasão

O trabalho logo cedo

A calejar as próprias mãos

Descalço pisei o chão

Sem formalidade

Pus sapato e paletó

Pro asfalto da cidade

Sem o polimento devido

Ninguém me percebeu

Melhor foi assim

Pude ser mais eu

Com poder de decisão

Vi-me de amigos cercado

Quando ele se foi

Seguiu bem acompanhado

Como desconfiava

Eram amigos do cargo

De olhos em benefícios

Enchiam-me de afago

Por fora cicatrizes indicam

Que ferimentos aconteceram

Mas por dentro só o ferido sabe

Se eles arrefeceram

Onde há cinzas o fogo já passou

Nada mais pode ser feito

Água tardia não apaga

O que o tempo fez do seu jeito

Percorri caminhos que escolhi

Outros que não busquei

Em alguns trechos me perdi

Noutros me encontrei

Às vezes preciso foi

Sabendo ser dura a lida

De bobo da corte estar

Para quilometrar a própria vida

As marcas do tempo atestam

Que muito já caminhei

Se o tempo passado é longo

Quanto ao futuro não sei

ANTÔNIO RIBEIRO
Enviado por ANTÔNIO RIBEIRO em 27/03/2015
Reeditado em 23/05/2020
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