Alerta

Alerta

Tinha os olhos negros de um brilho sem igual, a voz era linda que parecia cantar suave quando dizia que me amava, tinha mãos macias, que tremiam quando me acariciavam, seu corpo, bailava leve no momento em que nos amávamos, lhe conheci no momento que nossos olhos se cruzaram. Tinha uma maneira especial de me elogiar, sabia as palavras certas no momento exato de falar. E a cada toque a cada beijo, fui percebendo que sem ti não conseguiria mais caminhar. E nossos momentos de amor, nossos momentos de loucura, já não escolhia hora nem lugar, te amava no portão, no carro, na chuva em qualquer lugar. Mas nem eu nem você sabíamos que carregávamos um mal, um mal negro e impiedoso. Alguns dizem que é castigo, outros que é um aviso, eu não sei como explicar. Tive tantas mulheres que nem sei de qual, e nem a quantas contaminei. Sabia do perigo e não acreditava que aconteceria comigo, mas, aconteceu e com minha vida acabou. Perdi meus amigos e de preconceito ou medo todo mundo de mim se afastou. A doença mata, mas nesta enfermidade descobri uma doença maior, chamada preconceito, pois pior que o vírus, é o abandono e a falta de carinho. Muitas vezes me pego na noite chorando sozinho, e lhes confesso que mais do que a cura à Deus supliquei alguém que me desse um pouco de atenção, um pouco de carinho. Hoje estou ainda mais sozinho, pois fiquei sabendo que aquela que era minha vida, que era meu amor, não mais suportando tanto sofrimento, tanta dor, se foi. Mas por isso não sinto, não lamento, pois a morte para nós é apenas o fim do sofrimento. A AIDS não é igual a você, ela não tem preconceito, ela não escolhe religião, branco ou negro, por isso cuide-se, ou será você o próximo a ocupar este leito.

Poema de Orlando Jr.

orlando junior
Enviado por orlando junior em 08/06/2007
Código do texto: T518376
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