QUE TRISTE É SER

Poeta?

Que triste é ser.

Melhor seriam os olhos vítreos,

Apenas para a frieza dos postes de concreto,

sem afeto,

sem enxergar o segredo das mariposas em torno da luz.

Só para os postes, friamente,

indiferente sob um capuz.

Como viver, porém, sem estar em sonho,

Sem carregar na cabeça um alegre pensamento

E ir sorrindo em silêncio,

achando tudo enfadonho?

Olhos vítreos não permitiriam o suplício

De enxergar as sombras da branca lua na terra.

Que triste é ser poeta,

Cumprir papel de palhaço no picadeiro,

Quando seus versos não satisfazem, em guerra

frustram por inteiro.

Não há férias de ser poeta,

Porque existem as exuberantes flores,

O doce olhar da criança e a sabedoria dos velhinhos.

Além das sombras e das mariposas buscando luz

sob a lua,

nas guias da rua.

Há dores e amores nos cantos e vielas

no último degrau, à porta

Ave Maria de Gounod

sob o campanário da catedral.

Chegadas e partidas,

começo e final.

Há mescla de alegria e sofrimento

espalhados nas ruas, no elevador,

chão dos homens

e no firmamento.

Poeta é para-raio

do delírio ao torpor,

vai sem perceber.

Poeta...

Que triste é ser.

Dalva Molina Mansano

10:18

25.03.2015

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 25/03/2015
Reeditado em 28/03/2015
Código do texto: T5182638
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