DESINSPIRAÇÃO
Dia sagrado da arte, a mais bela arte
Incerto e íngreme é o caminho, o percalço
Vislumbro a musa muda, nua a esmorecer
Não sei a pinto, a descrevo, a fotografo.
Tênue silhueta no alvo e claro alvorecer
Olhos cerrados para cheirar sua passagem
Pois na marina matinal a esmaecer
Entre as brumas, as marés e naus vagantes
Os meus pincéis perpetuariam sua imagem.
Eis que na minha vida já desponta o entardecer
Escrevo versos, rezo poemas, ouso até mesmo…cantar!
Mas qual! A tão linda dama se recusa a me escutar.
E assim a tarde passa lenta, morna, mortiça
Chega a notícia de que o sol vai desmaiar.
A moça singela se espreguiça na preguiça
De uma noite escura onde a lua nem saiu
Quem imagina a poesia sem a lua?
Quem imagina um poema sem a musa?
Quem pinta cores no escuro absoluto?
Quem canta versos na voz muda e no luto?