GULA

Na primeira noite eram águas
E o vento a impulsionar para o não sei onde
Na segunda noite tempo revolto
E o gigante admoestor
Na terceira noite é caravelha
Espreitando deslumbrada pelo portal do paraíso

Entrou sem bater
(sem bater?)

Depois é calor ele lhe dá água fresca
É fome ele lhe dá comer
É temporal ele abriga
Depois frio e lhe faz fogueira
Mais frio e lhe afogueia de novo
Até que numa noite
São um só fogo

Era frio eles manto,
Era sede eles rio,
Era fome eles fauna e flora.

Depois os meses de azia e vômito
E o choro convulsivo da nova gente

De que fruto comeste, pessoa?
Do fruto do amor-e-ódio
Que resultou
Brasilidade.