A CESAR O QUE É DE CESAR
Ao velho Amigo e Colega -
Dr. Asclepíades Jambeiro.
" Y pensez-vous? L'état à l'Église mêlé!"
(VICTOR HUGO - "Toute la iyre."
Volume 1, pág. 196)
O Estado dando o braço à Igreja... que espetáculo,
Que casamento alvar!
O botaréu da Lei - sentinela do Báculo -
Equilibrando o Altar,
Por mais largo que seja o abismo dessa asneira,
Por mais fundo que seja,
Nele caber não pode a pátria Brasileira,
Se nele cabe a Igreja.
Um pouco de juízo - irmãos - considerai,
Sem ódios, calmamente,
Onde, o Estado se apóia, o Altar vacila e cai
Inevitavelmente;
O que o Estado respeita ele anatematiza.
Sempre foram rivais;
O que um levanta e adora o outro derriba e pisa,
São gênios desiguais,
Não se pode meter da Eucaristia o pão,
O corpo de Jesus,
A hóstia celestial na boca de um canhão;
O sabre odeia a Cruz.
Como se há de torcer a lógica dos fatos,
Tão clara e tão brutal?
Unir o Inferno ao Céu, Jesus Cristo a Pilatos
A Prosa ao Ideal?
Que atroz tragicomédia! O padre tresolucado
Aos ventos da Ambição,
Missas a celebrar, depois de ter beijado,
Com vil sofreguidão,
O focinho da Fraude os glúteos da Cabala,
- A amásia de Satã -
Benzendo o clavinote e batizando a bala,
Num sanguinário afã.
O Interesse, - esse anão de tão nojenta cara,-
De gadanho peludo,
Amolando punhais na santa pedra d'Ara,
Emporcalhando tudo.
Entre o Padre e Jesus - ameaçadora e bruta -
À voz das orações,
A Política em pé, armada para a luta,
Forgicando eleições!
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Se e Igreja é imortal e se é divino o Altar
Duma religião,
Não carecem pedir ao braço secular
A esmola dum bordão.
25 de junho de 1899.
Do livro inédito
" IDOLA CAVERNA"