Oito Horas

Meu texto é superficial,

é a arte do camaleão, é balela.

Sob toda essa fria camada,

que ninguém sabe ser tênue,

há açúcar e outras coisas afáveis,

uma bombonière de surpresas.

Apenas me disfarço dos meus pares

no ambiente de trabalho,

a preço de minha discrição.

Depois, me desfaço deles.

Mês passado fez oito anos

que me prostituo, fazendo tudo

o que não gosto, oito horas por dia,

cinco dias por semana.

E com mais oito horas de cama,

quase não vivo, às vezes, no mais, existo.

Essa maratona deixa a música baixa

e a poesia embaralhada

e se não sinto o gosto da palavra,

tudo é fome e enjôo.

Meu antegozo é saber

da efemeridade das coisas,

é saber de tudo que não sei,

e mora logo ali adiante.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 18/03/2015
Reeditado em 06/07/2018
Código do texto: T5174248
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