Vanguarda

Num momento humorado/

Apareceu lá pela rua

Um colega amotinado/

Conversando em circulo/

Exaltava-se/

Dizia-se pra frente/

Aliado de intelectuais/

Que a gente/

Só admirava pela tv/

Ele/

Mostrava a sua tatuagem/

Como ponto de vanguarda/

Para nós que éramos/

Apenas da periferia/

Ele falava das marcas/

Falava dos carros/

Falava das discotecas/

E a gente no muro/

Feito urubu empalhado/

Apenas olhávamos para os lados/

Pensando aqui e acolá/

De repente um dos indigentes levantou-se/

E disse tá tooo/

Não sei falar e nem gosto de me riscar/

Todos os telespectadores começaram a rir/

Foi ai que alguém disse/

Foi ai que alguém perguntou/

Para o colega/

O nome da fome/

Outros falaram da dor na barriga/

Outros das noites em claro/

Quando há chuva sob as palafitas/

O descolado ficou desconcertado/

Pois pouco entendia dos casos abordados/

E pra desfechar a conversa/

Alguém também perguntou/

Em que escola o fulano estudou/

Se o seu pai trabalhava empregado/

Nas construções do doutor/

Um silêncio amarrotado/

Foi colocando o vanguardista/

Foi colocando o estilista/

Foi colocando o tatuado/

No reservado fora da moda/

Pois o que mais importa/

Não é ser um drogado/

Não é ser um bêbado inveterado/

Um tabagista inconformado/

Não é ser um corrupto inusitado/

Para ser chamado de letrado/

Mas conhecer a dor/

Sabendo os pés que chão se pisa/

Sabendo a boca/

O que questionar/

Para que os seus direitos/

Não passem a serem indignações/

Como provações divinas /

Entender que é a partir dessa realidade/

Que se pode mudar a cidade/

Para o melhor de todos/