MAIS PÚBLICOS do que CÃES
Dizem o não-dito através do sangue
fazendo das tragédias novas formas
de amanhecer desplugadas
da Justiça e do Mito, apenas
esperamos descobertas, agora
sem bandeiras.
Não temos aonde ir.
A beleza e os paraísos são propriedades
e nós, mais públicos do que cães,
esperamos intranquilos e conformados
pelo sol que subjuga a brasa
nos acampamentos.
Neste tempo de pasmaceira há os que clamam
pela rebeldia arrastando as canções nas ruas,
abrindo fendas cujos acordes são arco-íris
sobre os miados atmosfeéricos
da viadagem dos vampiros
regentes da miséria e do vício
injetados nas veias repletas de cortes da Aurora,
embora ladrões presenteiem ceias fabulosas aos mendigos.
Este é o ponto da discórdia
o crime prevalece nas portas do Paraíso
até a Perfeição tem descontentes,
droga - sagrada como a religião e a herança,
nos becos da Inquisição magistrados loucos
pregam farpas de fogo nas mãos dos perdidos do jogo
andar na rua já não muda o mundo
rasgo a Colmeia no cabo da guitarra e o céu acorda banhado no ouro
vou embora levando além da sombra uma flor
crente que o Verão desvanece a festa num bruta estouro