Amor de Peão
Todo dia, logo cedinho, antes do raiá do sor, minha famía tava de pé, pronta pra prantá ou pra coiê, eu era moço novo, tinha muito pra vivê, nos sábado hávia dança e muito coisa pra faze, até um tar cinema, que era a coisa mais linda de se vê, mais o bom mesmo era domingo, na praça principar, onde se reunia o pessoar, esperando o sino da catedrar batê, chamando a gente pro mode rezá, e de tardisinha, ia prá lagoinha, tomá banho e bebê, e lá muitos namoro, e inté casamento fêz acontece, e que arguns mais apressadinho, se perdia no mato e só Deus sabia o que ia acontecê, e dessas perdida, muitos nenê já havia, e tinha mais um tanto pra nascê, e foi lá que conheci Maria Rosa, menina doce e formosa, que ganhou meu coração, sabia tanta coisa, coisa que dizia, aprendeu numa tar televisão, segundo ela era iguar cinema, só que ficava em riba duma mesa ou de um barcão, e anssim nosso namoro durou uns mês, e apesá da gente no mato também se perdê, ela sabia como não deixa o nenê nascê, além de formosa era também talentosa, e no fogão tudo sabia fazê, peixe, galinha e outras comida que nem o nome sei dizê, mais era gostoso como quê, meu coração, não aguentava mais longe do dela vivê, por isso um dia, pros pai dela resorvi um pedido fazê, quero sua fia pra comigo vivê, e anssim se sucedeu, em menos de seis meis, com a famía reunida o casamento aconteceu, e em uma casinha de sapê nóis fomo morá, era tudo muito simpres, mais eu tinha muito amô pra dá, o tempo foi passando e Maria Rosa vivia recramando, das coisa que queria tê, mais eu como vaqueiro não podia dá, antão resorvi minha vida mudá, e sai da fazenda onde cresci, e em outra como administradô fui trabaiá, e em pouco tempo as coisas mudô, e até o tar televisô pra Maria Rosa eu pude comprá. Compade Onofre, que era meu patrão, pra nóis era muito bão,segundo ele iguar a eu não tinha outro peão, e seus nigócio da cidade, era só eu quem dava salução, mas um dia, indo pra cidade, pros interesse dele resorvê, meu cavalo num buraco trupicô e sua pata quebrô, amarrei ele num tronco e com meu 30, em sua dô puis fim, tirei a sela e joguei ela sobre mim, vortei pra fazenda e quase no finar da tarde, a porteira principar atravessei, fiquei imaginando, a surpresa de Maria Rosa, pois segundo os prano, só vortaria, daí dois dia, em silênço em casa entrei, cômodo a cômodo minha amada percurei, foi quando no quarto um barulho escurtei, tirei meu chapér e quando na arma peguei, meu coração ficou triste, pois lembrei do belo garanhão que matei. "Mas antes morrê, que vivê capengando, e sofrendo pelos canto”, foi o que pensei. Quando no quarto lentamente entrei, senti uma dô cortá o meu coração, Maria Rosa, tava na cama com meu patrão. Parecia que o mundo tava sobre mim, e com a arma ainda na mão, pensei nus dois dá fim, e ainda mais doeu meu peito, quando ele pulou do leito, e nos meus pé supricô dizendo anssim: "sou apenas um homi fraco, não me mate por favô, foi Maria Rosa quem sempre me convidô". Aquelas palavra rasgaram meu peito dolorido, pois segundo elas, não era a primeira veiz que tava sendo traído, cego de ódio com um tiro Onofre, meu patrão eu matei, dispois apontei a arma pra Maria Rosa, mais ao vê uma lágrima escorrendo do seus oio lindo, o gatilho não puxei, como, como matá arguém, que eu tanto amei. Fui pra cidade e pro delegado, minha história contei, Maria Rosa sumiu no mundo, por onde anda, num sei, numa cadeia imunda, por cinco ano meu crime paguei, e hoje, sou um bêbado, que pelas rua vive a vagá, amargando um amor, que não consegui matá.
poema: Orlando Jr.