Noite sem luar

A noite acordou e entrou pela escuridão

escondendo a lua

Apagou o silêncio e a montanha

Encheu o ar de aromas sensuais e de passados

Meus olhos dormiram

encantados pelos sonhos de Mara

Meus lábios esqueceram as palavras

Meu coração não atravessou o rio

Minhas mãos tremeram diante

da possibilidade da flor

No céu a noite continuava caminhando

seus passos escuros

As estrelas queimavam-se,

crepitantes candeias

O vento soprava cinzas no caminho

Vou tateando e andando passos hesitantes

A mente cria os vários mundos,

do engano à submissão

Há que se arrostar o samsara

e viver e morrer e reviver no samsara

O tempo passou e já é quase hora de voltar pra casa

e nem sequer sei onde estive

Minha alma oscila entre o silêncio e o grito,

entre a sabedoria da inocência

e a cupidez e os vícios

Há campos e tempos a serem trabalhados,

flores a serem cultivadas,

véus a serem despidos,

há que se atravessar tantas pontes

sem que se possa refrescar-se nas águas límpidas do rio

há a noite e o silêncio e as folhas secas que o vento leva

e as portas por onde se entra na noite

e dentro da noite infrangível

e sobre o lodo do lago

brotam flores de lótus