Eu não

O tempo derrama sobre o dia o ópio das horas

As sombras vêm para a tarde

Erguendo a noite do chão

A luz do verão consome-se lentamente

O dia morre, então

O Universo que desconheço,

meu universo em meus livros,

meus textos,

o grande engano dentro de mim,

o que penso, o que intuo, o que sinto,

são impermanentes e perecíveis

A vida é indagação

O passado vivendo irremissível dentro do velho espelho da mente

É medo o outro e divagação

O sonho indigitado já vem usado, surrado

É sonho de segunda mão

O menino que ama Pingo

Soluça sua entrega na rua em busca de sensação

Um dia você falou tanto silêncio aos meus olhos

E disse tanto gesto cheio de ilusão

A saudade me olha com seus olhos baços

A saudade é inverno e consumação

eu não

eu não

eu não

eu não tenho bem certeza

se a morte ainda me quer

ou se me dissolverei no vento

como a poeira do chão

se a morte não me quiser

Tremi

Quando o vento passou

E o mundo tremeu comigo

Abalando a luz que sustentava o dia

Enquanto te descrevia

Como o silêncio escreve,

Reescreve e descreve

Na noite volátil e leve

A mais delicada e terna poesia