Leveza
Tiraram-me as cores com que pinto a terra,
As flores agora tristes, perdem a vivacidade.
Faltam-me tintas para pintar a serra,
As pobres das flores choram sem liberdade.
Tiraram-me as cores com que pinto o vento,
Os pássaros agora melancólicos, não querem brincar.
Só ouço alguns cantos de lamento,
Os taciturnos pássaros estão só a me olhar.
Tiraram-me as cores com que pinto os mares,
Os peixes prateados, agora solitários.
Cinza chumbo tornou-se o azul de seus lares,
Os tristonhos peixes tornam-se imaginários.
Tiraram-me as cores; despercebido,
Levaram-me tudo e até a felicidade,
Deixaram-me com o coração doído,
Roubaram-me as cores, é verdade.
Porém, deixaram-me os pincéis,
Eles são a esperança de que haja cor,
Tão singulares, agora assimiláveis.
Sei que podem absorver a dor.
Um dia devolveram-me as cores,
Voltei a pintar, tudo com mais delicadeza,
Enchi as telas de pétalas e amores,
Assim, encontrei minha leveza.