Poema solto...
“Um poema é um mistério cuja chave deve ser procurada pelo leitor.” Mallarmé, Stéphane
Tenho em mim um poema solto,
bradando em idiomas desconhecidos.
Tudo soa bem, como num canto espanhol;
tudo solto e arisco, feito um touro indomável.
Meu poema parece uma pintura inacabada.
A cada hora que se olha, se mostra de um jeito.
Cavalo indomável desembestado dentro de mim.
Olhos alheios pra dentro do dono, se vendo distorcidos.
Poeta louco que não faz com que nasça o seu poema,
guardando pra si o que há de melhor. Turvando
o poema nítido que brilha sem vida no oco
peito desvairado do criador-criatura.
E os ares se tornam intensos e fazem brotar as poesias
antes hibernadas nos escombros do ser humano,
que nasceu poeta e, brincando de tímido eterno,
brinca de lançar poemas soltos, letras vagas.
Tenho em mim um poema solto
que, se agregassem as palavras,
daria uma poesia alforriada
de leis e conceitos retos.
Tenho em mim um poema solto.
Seus olhos o formatarão
do jeito que quiser
que se eternize.
Do jeito que quiser
que se eternize
em ti!