Alguma coisa

Alguma coisa está para acontecer

Quando a água beber a sede

Quando o ar se tornar fogo

Quando o amor, de si tão quente, fusionar o ódio

Quando o homem humanizar-se atendendo ao rogo

terno da aurora,

ao choro inteiro da alma de uma mãe

Alguma coisa aconteceu

E com aporias me devora

E antes que você vá embora

Saiba, senhora

Que o dia que vinha veio e nasceu

por detrás da cerração

E a noite ficou lá fora tingida em pó de carvão

E a água lavou o fogo

E o amor se fez sem rogo

E o homem afagou o ódio

E a sede fartou-se de choro e saliva

E eis que a vida ainda é viva

E em usual sossego

Alguma coisa acontece

Entre o instante e o agora

Se a noite fica do lado de fora

Alguma coisa acontece

ao rogo terno da aurora

alguma coisa

a

con

tece:

do caos inebriado

e amarfanhado

que tanta estrela criou

fez-se esta realidade incognoscível

subjacente

jacente

se/mente

lançada ao chão

para que mais nada aconteça

e não me roube o mundo

e a paisagem placebo e movediça que subsistirá

ao que penso ser no engendro hermético da mente

e às veleidades que no tempo vago e vazio de mim se falará