Potências
A potência da vida ele guardava num cantil de sentimentos. Era um cantil afeito a estranhezas. A cada encontro, antes da partida, bebericava o cantil num pranto miúdo, em soluço baixo, num gozo morno. Explodia em lamúria. Gostava, simplesmente, de apanhar nuvens, catar sonhos, montar poesia, enamorar borboletas. Tudo isso virava sentimento de cantil. Morava na barranca do rio e preferia as coisinhas puras do chão. A terra fascinava mais que as estrelas, a água encantava mais que avião, o vento muito mais que o infinito. Seu medo, mais que da morte, era de morrer rodeado em saudade.