MEUS [UNI]VERSOS [LIT]ERÁRIOS

sou barroca quando fechos os olhos

ao mistério e vejo o mundo pelas mãos

no meu declínio epicurista-pagão

sou neoclássica quando me expando

e do meu corpo nascem paisagens

e sou árvores sou terra sou mar ilha

sou romântica quando meu coração e espírito

despertam o idealismo lírico e são capazes

de morrer para serem livres e, enfim, viver

sou realista quando, naturalmente, determinada

ante os fenômenos da vida, me interpreto

na ambiguidade a mais humana hipocrisia

sou parnasiana quando equilibro meus desatinos

fazendo parcos versos decassílabos

com minha racionalidade fria

sou simbolista quando, no mais intrínseco de mim,

escamoteio a realidade sã e me eviscero dos demônios

dormentes, decadentes, na degenerescência vã

sou modernista quando, enfim, desprendo-me

de quaisquer grades e sigo na univastidão

de minha idiossincrática retangularidade