A reza do último elemento da Caixa de Pandora
Ó terra nobre
farta dos gados, das terras, das risadas do povo.
Do povo e do suor de suas testas beijadas pelo sol
que entra pelas janelas dos ônibus e trens e caminhões...
Ó terra viúva de teu primeiro marido
és agora como a dama das ruas
que acolhe em teu seio
tantos outros de tantos outros confins desta terra.
Ó terra dos campos improvisados pelas mãos
de teus filhos mais ternos e ingênuos.
A bola que rola na terra em que jaz os sonhos que
morrem antes mesmo de conhecer e deleitar
a vida nos campos dourados.
Ó terra imaculada, de certo que Eva vos amaldiçoastes, tens Caim e tens Abel, o primeiro que assassina o segundo.
Caim que rouba também, que o cala sem dó,
e não sabe de coisa alguma, que guarda para si, riquezas manchadas de sangue e de suor, riquezas molhadas pelas lágrimas de um choro de fome.
Ó terra dos morros de madeira talhada para servir de casa para os filhos que lhe nasceram no mesmo ventre.
Dos morros que cedem com o choro do filho diante o olhar da miséria humana.
Do choro do filho perante a vista da Praia de Guanabara, a vista desenhada pelos arcanjos de São Sebastião a pedido do próprio Cristo.
Ó terra dos sambinhas regidos pelos passinhos curtos e jeitosinhos.
Do cheiro de café conhecido de toda gente
como se fosse fragmento da alma.
Está no sangue.
Ó raça incomum! De ondes tirais tanta força?
Dá fé no Messias que sofreu para reinar,
que aceitou tudo sem pestanejar?
Que de braços abertos acolhe a nação inteira,
pois a nação é mãe,
é a Virgem Maria, uma mulher de Atenas
que vê o que há de podre no Estado do Brasil,
que ouves nas rádios o recado:
"Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta!"
Que assiste ao Jornal Nacional e acredita
como se este fosse o oráculo que emana da Providência,
a voz do centro do país, do Planalto, dos reis.
E não é?
Ó terra deturpada, que a piedade caia sobre ti
pois o riso mais sincero, o teu povo já produz.
E ri de quê? Deus sabe!
Ri porque há muita dor
ri porque Neymar é rei
porque Roberto Carlos também é
porque assim Getúlio foi e
I-Juca-Pirama, igualmente.
É, foi sim!
Ó terra farta dos rios, das plantas, dos bichos, dos povos, do sofrimento, da injustiça e da maior felicidade que esta orbe pode conceber.
E o Cristo está de braços abertos...
Ó Cristo, abençoai a pátria de teus filhos,
abençoai esta terra tão pura e divina.
E que do Caburaí ao Chuí
Da Nascente do rio Moa à Ponta do Seixas,
se possa ouvir em tom de reza:
"Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
de um povo heróico o brado..."