Apolo e Dionísio
Quem há de ser tu, ser onipresente, intruso observador?
os céticos não me compreendem. Ó, do que vale tantos filhos da terra se nesta causa fui mandada só para o vale das tormentas? Quão grande é o plano tracejas para minha pessoa?
os céticos ou sabem e ignoram por medo
pois a dúvida é a brisa mais torrencial que empurra para o abismo da loucura.
é o eco que emana na caverna escura e asquerosa da existência do ser pensante.
Tu podes até ser dois empossado num mesmo corpo, Apolo e Dionísio
pois tu mesmo me concede a espada, e tu mesmo impede-me que eu a use.
Que me concedeu os piores e mais profanos sentimentos e me abençoou com os mais puros e honrosos.
Tua face, a mais divina e tanto quanto ignóbil, não conheço. Nem provas tenho de ti, ou as tenho e não as reconheço. Ah, memória tão falha e esse coração tão profundo quanto as profundezas do mar ou do inferno, esconde coisas da qual nem me recordo.
Mas, ah, tuas mãos mexem todas as peças do tabuleiro, ou faz com que eu mesma as empurre.
Quem és tu?
Por que choro e desejo teu colo?
Por que dá corda ao acaso
e com esta mesma corda
enforca-me quase que para a morte
à espera da minha súplica mais desesperada pelo último fio de vida em que me apego.
Por que me deste liberdade se tu me encurrá-las em minhas próprias vontades?
Sabes que paraliso diante à escolha,
pois um pede a morte do outro,
e um sou eu
e da mesma forma
o outro também.
És a mão que apunhá-la
e a mão que estende a cruz da rendição.
Maldita seja esta vida bendita!