As águas de março
Por aqui as águas de março vão fechando o verão e o dia amanheceu chuvoso, para lavar todas as tuas, as minhas as nossas mágoas, para sobreviver dos nossos naufrágios de nós. E as ruas sossegam sem ruído e acordam devagar, acanhadas e intensas. Chove e um mundo inteiro de ilusões se descortina nas mãos de um tolo que amanheceu poeta, guardando as cinzas do que foi um ontem de lágrimas e a viuvez da alma da mulher que se guardou enquanto o céu das possibilidades ainda adormecia em seu ventre. E a paixão desdobrou-se em ventania de sentidos e a chuva expurgou toda espera sem retorno e ainda em êxtase com a madrugada coloriu as ruas de poesia e som.