Se
Se eu morresse hoje, assim de repente,
ela só ficaria sabendo alguns dias depois, provavelmente,
por algum amigo em comum.
E então se sentaria em sua cama e colocaria o rosto entre as mãos.
Pensaria nas coisas que me disse, nas coisas que fez e que não fez,
e então viria um desespero mudo.
Ela se deixaria ali, parada, sem nem mesmo chorar.
Chorar seria admitir que era verdade.
Naquele momento ela não estaria pronta para isso.
Então pegaria o telefone e tentaria me ligar,
sem sucesso.
Só então cairia a primeira lágrima
e depois outra e outra
e então um oceano inteiro.
Pararia para ler meus textos e poesias.
Até os que tinha odiado,
só para sentir tudo de novo.
Se eu morresse hoje,
talvez ela descobrisse que me amava acima de tudo.
E que tempo desperdiçado não se recupera.
Se eu morresse hoje, talvez
ela viesse bater em minha porta
e jogaria o orgulho de lado,
todo o peso,
e tudo o que ficava entre nós.
Se eu morresse hoje, ou amanhã
ela lamentaria por ser tarde demais,
para qualquer ação desesperada,
para qualquer declaração,
e para uma nova tentativa.
mas ainda assim, ela me amaria.
Me amaria na morte,
mais do que me amou na vida...
tenho quase certeza disso.