CALAMIDADE
Molho os pés na poça insossa
que se formou bem à porta,
quando a chuva desceu forte
alagando todo o pasto,
o gado, a semente inocente
que, alheia e displicente,
tentava brotar calma e frágil.
Inda ontem a seca brava
de sede, inclemente, matava
animais, homens sem nome,
e o presente sem passado,
que acabou crucificado
no mesmo lugar em que viu
morrer só, abandonada,
aquela que, um dia, o pariu.
. . .
Aquela que um dia o pariu
não iria ficar pra semente
e quem, porventura, a viu
diz que partiu bem contente...
não iria ficar pra semente
e quem, porventura, a viu
diz que partiu bem contente...