olhos de xamã
tem um rasgo no universo
tem um rasgo que me permite ver
com olhos de xamã emprestados
vinte minutos para enxergar
e guardar na memória tudo que for visto
'bebe desse chá
fume dessa erva
e olhe pelos olhos do previsto'
retina corre rápida procurando evidências
algo que grude na mente o momento
são anos para olhar
o que deve e o que não deve ser feito
um bom negócio?
a chave de sucesso
olhos de xamã
ágeis
o que você dirá se tudo falhar?
o fim pode não ser tão pomposo
pode não ter alternativas plausíveis
'Schrödinger manda lembranças
e se pergunta se você entendeu...
pedras também se movem
a brisa entorpece
penetrando no seu âmbito'
têm cheiro de cor seu pescoço...
que me faz lembrar de casa
do conforto que a certeza dá
mas eu era criança e tudo costuma ser distorcido na minha lembrança
o escuro não era seguro...
meus olhos veem
meus olhos veem e se chocam
meus olhos veem
'só mais um gole
você vai conseguir ouvir também'
tudo que fica implícito
quebrado em pequenas partes
nossos olhos veem diferente
estamos olhando para o mesmo lugar?
saia de perto do fogo
com essa língua inflamável
não mereço o fogo em palavras
o mundo sempre foi um lugar solitário?
a lua sempre foi assim tão prepotente?
sorrindo lá de cima para mim...
com a distância suficiente para manter a discrição
remédio ruim que não cura
alivio medíocre que não dura
somos todos adultos agora
zumbido que não pára
engole
engole
'há sempre um mal estar interno
e são passos sempre mal dados'