Onde as sombras se escondem

Ouvido o uivo, meio que turvo

De algo que praguejava

Uma presa, presa ao destino

Que nos cruzariam, em plena noite

Lua sobre o frio, chão umedecido

É noite, o escuro é quem brilha

Noite de calmaria, desespero é alegria

E ainda ouvindo o uivo, cada vez mais perto

Que era de uma besta, isso é certo

Mas o que de mim, esse monstro espera?

Me matar, enquanto permito?

O devo esperar, enquanto reflito?

E se a criatura que uiva me libertar?

Se me levar para o paraíso?

Dos sonhos possíveis, e atos incríveis

Sendo assim, vinde a mim mistério

A única certeza deste mundo sério

Que se devora para se harmonizar

Um matando outro, eis o meu destino

Depois de tanto matar em mim

Células de alegria, ouço no uivo a fantasia

De que o pior não vai chegar

O pior aqui já está

Enquando o ar entra e sai

Cada vez mais perto, junto ao uivo

Agora ouço seus rosnados

É fera que não se domina

Bicho solto em busca de harmonia

Nessa noite que as sombras se escondem

É lá que me refugio

Esperando a selva vir a mim

Para dialogar os verbos dos sentidos

Sofrer e viver, tanto faz a ordem

Duas soluções para um problema

Que chamam sempre de dilema

E nunca ousam solucionar

O ouvo agora, então sumiu

Teria a besta notado que a esperava

Será que ela, soube

Que em seu uivo eu acreditava

As presas não são presas

Se quiserem ser presas

São pontos de libertação

Onde as sombras se escondem

Estão os segredos mais importantes

Luz do sol é alimento delirante

E notei que o uivo se foi

Pois o amanhecer já está presente