Retrato escrito: Uma turista em São Paulo
Seu olhar não se encontra no centro;
O centro é uma grade de ferro
Fria, corrosiva, dura como a vida:
Vida dura como capital;
Não dura - falta de compaixão.
Dura - lapidada cuidadosamente.
Frio traduzido.
O olhar à direita, psiqué perdida de turista.
Mas, olha! Em seus olhos não há perdição.
A cara de uma musa, estatua.
Estatueta, sim, é. Prêmio de fotografia.
Seus olhos não expressam o labirinto paulistano,
A confusão hermeticamente construída em ruas.
Engenho de poeta, não de engenheiro.
Veja só, as colunas trabalhadas, como elas mexem
Sem precisamente mexerem.
O cabelo da moça desliza como quem é água:
Juba de Leão, domada é a juba. Ela não.
Linda, porém essa palavra já é gasta para traduzi-la.
Para seu rosto, palavra nenhuma foi convencionada ainda
E São Paulo briga (ou é mais uma vez a foto?).
Seus olhos: homem;
Seus cílios: índio;
Seu nariz: escultura;
Sua boca: o que confunde São Paulo;
Seu queixo: a base das bochechas;
Bochechas: colunas;
Pescoço: cortina de seda
Daquelas que existem nos haréns;
Seu busto é um balé visual.
Ela é diferente de São Paulo,
Porém São Paulo combina com ela.
São Paulo necessita dela, a foto não seria nada.
Ela não é nada, e nem está no centro.
A beleza de um violão,
Não pela forma, mas pelo som.
Concreto cinza, ela azul,
Pura contradição em cores.
Esta mulher olha para ti,
Pois é de você que a foto é tirada.
Tua percepção absorvida pelo seu olhar.