Intrusas da noite

Poeiras fantasmagóricas vêm me sufocar

Surgem de repente, rápidas, envolventes

Sopram íntimas sujeiras de um tempo perdido

Carregam consigo um amnésico passado

Que deveria para sempre ser guardado

Trancafiado, acorrentado, esquecido

Malvadas como um demônio da noite

Minha leviana cabeça com um açoite

Vez por outra elas vêm machucar

Trazem consigo a sua amiga insônia

Parceira vilã que não tem cerimônia

Em toda a madrugada me importunar

Estas formam uma indesejada companhia

Que só se vão quando o almejado dia

Está para fazer, enfim, se apresentar

Então satisfeitas com a tortura realizada

Vão embora à francesa, sem dizer nada

Esperando logo, logo a hora de voltar

Sorte de quem nunca as teve como visita

Que do juízo são uma racional parasita

Sem antibiótico para fazê-las desaparecer

Impiedosas, inconvenientes, resistentes

Somente vêm perturbar, atazanar a gente

Se dermos motivos para elas nos aparecer