Cotidiano.

A inércia não me apavora

O vazio sim, pois este deixa o vento passar.

Ao caminhar pela cidade

Enxergo o invisível

E me calo diante do irreal

O meu medo do outro

Quase sempre absurdo

Me deixa estática

Não vou

Não volto

Meus olhos continuam observando

E começam a sangrar

E a alma ainda calada diante do absurdo

O asfalto quente com seu tempo ligeiro

derrete sonhos

sonhos dos habitantes robóticos

Não sinto nada

Mas meus olhos ainda observam

E o sangue continua escorrer

Oito, dez, doze horas de jornada

Robôs, máquinas

O que pensam que somos?

Pensam que não pensamos?

E agimos como se não tivéssemos idéias

A noite se foi

O dia chega

A rotina vazia se inicia

Inerte continuo observando

Os olhos já não sangram

Mas gotejam salgada pureza.