Açucena
A palavra de que o poema precisa
Deve ser uma palavra imprecisa
O poema só tem frescor de brisa
Se às ideias ele não impõe divisa.
A palavra que sozinho eu procuro
Vem carregada de sentido obscuro
Ela se empoleira no alto do muro
Ninguém sabe o seu sentido futuro.
A palavra que eu tenho por meta
Não dá a compreensão completa
Assume a obrigação que é da seta
Mostra o caminho feito um profeta.
A palavra que a poesia prefere
Desaferrolha a porta do cárcere
Transporta a mente a um belvedere
Revela um cenário e apenas sugere.
A palavra que o poeta estima
É uma palavra que fica lá em cima
Pra buscá-la esse homem se anima
É palavra nobre e dá boa rima.
A palavra que vem e não me algema
Não sei se é palavra ou se é teorema
Evoca o cheiro suave da açucena
Que não pode faltar a nenhum poema.