Lago de ar
Cegas luzes incandescentes
Copos cheios covardes insistentes
O som quebra o gelo e a calma
As cinzas queimam o zelo e a alma
Cacos de vidas para juntar e colar
Lares e sonhos que vamos todos deixar pra lá
A idéia deixa o ócio e se esconde
O dia rasga a noite e explode
Canções sólidas para se tocar
Palavras e vozes adensando o ar
Tramas e dores para se imaginar
Tiros e gritos para se assustar
Nada por aqui que não se agite
Quem tirou afinal nosso limite?
Botafogo é um lago de ar
A varanda nos chamou aqui para pular
Para onde conseguiremos voar?
Com asas etílicas frágeis de se quebrar
Caiamos então, e corramos
Por becos e ruas que não nos percamos
Para bater de cara nos muros e portas que já tanto batemos
Para saber a hora dos encontros e furos que ainda não demos
Trago-lhe flores colhidas em terrenos baldios
Trago-lhe drogas que tirei de velhos sadios
Trago-lhe canções que roubei de loucos vadios
Trago-lhe o chão e o travesseiro macio
Trago-lhe esse céu, como se diz, azul anil
Trago-lhe esse corpo, farrapo, mofino, morto e vazio