O SÉTIMO DIA
acordo e estou velho
não há tempo para viver
aquelas velhas promessas
já sou da idade
do meu mais antigo ancestral
passei por todas as idades
sem glória sem lição
estou mais velho
do que arte rupestre
amigos me olham
e não me reconhecem
não há tempo para despedidas
em cada passo deixo para trás
uma poeira que pode ser a última
acordo e sou um velho
sem força sem sábio conselho
apenas um caco de homem
que envelheceu antes do mundo
não há para onde correr
sem luta alguma para me alistar
nem fé que possa ser reformada
os poucos afetos restaram inúteis
não consolam mais que
o abraço de um estranho
em final de copa do mundo
não adianta chorar
nem ranger biblicamente os dentes
sou apenas um velho
que não descobriu o segredo da vida
não desbravou os sete mares
nem fez negócios da china
sinto todas as dores da idade
tribunais se agitam e fazem plantão
dentro da minha cabeça
há pouco tempo para desfazer
o que não merecia ser feito
sou velho e há muita solidão
há poucos da minha espécie
todos parecem ocupados demais
sou um velho que marcha
obedecendo a sabe-se lá qual destino
há urgência e fadiga em minhas vontades
não deixo legado algum à humanidade
sou apenas um velho
cansado demais para esperanças