O SÉTIMO DIA

acordo e estou velho

não há tempo para viver

aquelas velhas promessas

já sou da idade

do meu mais antigo ancestral

passei por todas as idades

sem glória sem lição

estou mais velho

do que arte rupestre

amigos me olham

e não me reconhecem

não há tempo para despedidas

em cada passo deixo para trás

uma poeira que pode ser a última

acordo e sou um velho

sem força sem sábio conselho

apenas um caco de homem

que envelheceu antes do mundo

não há para onde correr

sem luta alguma para me alistar

nem fé que possa ser reformada

os poucos afetos restaram inúteis

não consolam mais que

o abraço de um estranho

em final de copa do mundo

não adianta chorar

nem ranger biblicamente os dentes

sou apenas um velho

que não descobriu o segredo da vida

não desbravou os sete mares

nem fez negócios da china

sinto todas as dores da idade

tribunais se agitam e fazem plantão

dentro da minha cabeça

há pouco tempo para desfazer

o que não merecia ser feito

sou velho e há muita solidão

há poucos da minha espécie

todos parecem ocupados demais

sou um velho que marcha

obedecendo a sabe-se lá qual destino

há urgência e fadiga em minhas vontades

não deixo legado algum à humanidade

sou apenas um velho

cansado demais para esperanças

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 23/02/2015
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