TALVEZ, QUEM SABE...





Acaso o ocaso dos sentimentos 
Pode ser só queima,
Apagar os momentos
Quando a vida ainda pulsa e teima?

Acaso o ocaso dos amores 
Tem de ser só sofrimento,
Tingir de negro todas as cores, 
Conturbar, assim, a lógica do pensamento?


Acaso o ocaso do dia
Tem que conter tão somente páginas viradas, 
Decretar o horizonte à agonia
Quando afinal há em nós tantas moradas?


Acaso o ocaso de antigos rumos
Pode ser a tranca de novos desejos, 
Converter ninhos em túmulos
Quando no coração ainda há lugarejos?


Acaso é-se uma única e só filosofia,
Que pode conduzir ou fazer perder
As coisas mais comuns do dia a dia
Pelo simples prazer de subverter?


Nunca o amanhã é tarde.
Nunca um brado ou gemido é em vão.
Nunca uma mudança é covarde.
Nunca é eterna a insistente escuridão.


O ocaso do que já fomos
É só a morte de caminhos ermos...
Adubo de ávores de robustos frutos,
Gestação bendita do que ainda seremos. 

Talvez, ainda, o fim e o recomeço
Sejam apenas movimentos incidentais...
A música tocada sem apreço,
Um ensaio de balé e nada mais.






imagem: google
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 23/02/2015
Reeditado em 03/03/2015
Código do texto: T5146814
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