TALVEZ, QUEM SABE...
Acaso o ocaso dos sentimentos
Pode ser só queima,
Apagar os momentos
Quando a vida ainda pulsa e teima?
Acaso o ocaso dos amores
Tem de ser só sofrimento,
Tingir de negro todas as cores,
Conturbar, assim, a lógica do pensamento?
Acaso o ocaso do dia
Tem que conter tão somente páginas viradas,
Decretar o horizonte à agonia
Quando afinal há em nós tantas moradas?
Acaso o ocaso de antigos rumos
Pode ser a tranca de novos desejos,
Converter ninhos em túmulos
Quando no coração ainda há lugarejos?
Acaso é-se uma única e só filosofia,
Que pode conduzir ou fazer perder
As coisas mais comuns do dia a dia
Pelo simples prazer de subverter?
Nunca o amanhã é tarde.
Nunca um brado ou gemido é em vão.
Nunca uma mudança é covarde.
Nunca é eterna a insistente escuridão.
O ocaso do que já fomos
É só a morte de caminhos ermos...
Adubo de ávores de robustos frutos,
Gestação bendita do que ainda seremos.
Talvez, ainda, o fim e o recomeço
Sejam apenas movimentos incidentais...
A música tocada sem apreço,
Um ensaio de balé e nada mais.
imagem: google