Tão longe é aqui

Tão longe é aqui

(Título do filme de Eliza Capai)

lá fora os ventos são só silêncios

incessantes

amoráveis

a alma é ausência

o sentir é dormência

os olhos ainda não se acostumaram ao escuro

o mundo se olha cego

nada se vê do veludo negro da noite

estrelas viajam nos céus

encruzilhada de mim

chove

uma chuva vermelho-carmim

dentro dos pingos lembranças

de você

lembranças de mim

em um segundo a desatada distância

entre eu e você

entre você e você

entre eu e eu

entre eu e aquele que vejo e que me olha do espelho

entre eu e você há caminhos que saem daqui às 22:39 horas

pontualmente

todas as noites

caminhos que vão para o passado

regresso à sombra que não deixa nascer a manhã

assim como a estrela traz o passado na luz

que só agora se vê

beleza de milhões de anos atrás

tão longe o que sou

tenho que nascer outra vez

e outras (se preciso for)

para viver o amor

mas, eu não quero viver

o meu, o teu amor

a ilusão da carne

a escravidão da carne

eu quero viver o amor incondicional

eu quero aprender das lágrimas o gosto do sal

não há caminhos em mim

há chuvas convulsas

há pedras caídas do tempo

interpondo-se no caminho

que haveria, mas não há

há sonhos que se arreliam

há um menino chorando,

comendo a parede de barro

há poeira,

muita poeira

e grandes redemoinhos

quando tento voltar para casa

o vento joga poeira nos meus olhos

sozinhos

não consigo encontrar o caminho

erro

vivo das migalhas que caem no chão

tantas vezes

morri em busca do caminho

mas, caminho não há

tão longe é aqui