Sobre pessoas e densidades

Existem pessoas densas que parecem carregar o peso do mundo em suas costas. Elas tem olheiras escuras e o olhar cansado como o daqueles que presenciaram muitos conflitos e perderam a esperança, a respiração pesada como se tivessem vivido dez mil vidas e a profundidade e o silêncio daqueles que já presenciaram o fim mais de uma vez na mesma estação. E, enquanto outros estão interessados em coisas efêmeras e de importância questionável, elas estão interessados no caos que cerceia o mundo e em como sair dele ainda respirando. Essas pessoas possuem a voz grave e rouca, um sorriso desesperado, e um cinismo e criticidade debochados que beira a áspera atitude daqueles que não conseguem fingir. Elas são catalisadores da dor e loucura do mundo e, por sorte, você não as encontrará à luz do dia. Elas estão  reclusas a noite sob o luar  onde o ar é mais fresco e menos sufocante. Estão nos bares, nas ruas e em pocilgas. Vendo, observando, catalogando, exprimindo. Sempre prestes a explodir. Sempre perto demais da boca do abismo segurando as pontas para não saltar.  Consumindo-se em busca de um fio triste de sanidade escondido em algum vício sujo. Para não se perder não pensam sobre o futuro é apenas o agora que interessa por que no instante reside a eternidade e, na eternidade, residem os verdadeiros deuses.