Pano de Fundo
Os cabelos tão libertos despenteados ao vento
Os pés tão firmes na estrada de terra
Os olhos tão castanhos, ou negros ou opacos
espectadores
Não é poema, pois se negam veementemente à poesia
São apenas cabelos, pés, olhos andarilhos
Transeuntes das horas
Navegantes do tempo
Ébrios...
Desejosos de assim permanecerem
Desfila o outono de fraque
folhas secas despertando de sua cartola mágica
Há um flautista em algum telhado noturno
compondo sua mais linda e triste melodia
E sua face como seria?
Essa face escondida sob o manto da madrugada
Movimentando almas em seus sapatos altos e vermelhos
Quem sabe em qual esquina adormeceu seu pianista?
Poderiam os segundos se renderem a um blues?
Não, impossível no outono!
Pois eis que o outono é um cavalheiro errante
Que caminhando se despede indiferente à musica
Há um colar de pérolas despedaçado
Enfeitam a varanda que beija de longe uma montanha
Seriam elas saudosas amantes?
Não. São apenas pérolas, montanhas, varandas
compondo um quadro do cotidiano.
São apenas coisas e coisas não se vestem de emoções