Sem ferrolho
É fim da madrugada
Pela fresta estico um olho
Engano até a estrada
Ela acha que sou caolho
Que não enxergo quase nada
Pensou que sou zarolho
Enganei essa danada
A hora certa eu escolho
Vou fazer minha revoada
E não quero usar antolho.
Depressa pego um saco
Vou enchendo de trambolho
Cabe até o meu casaco
E um pente sem piolho
Do que quebrou eu levo caco
Mais o que deixei de molho
Pois não queria dar pitaco
Não vou deixar prá restolho
Vou fuçar em cada naco
E o que me servir eu recolho.
É uma estrada perigosa
Não é coisa pra pimpolho
Pode ser muito enganosa
Cuidado se tem terçolho
Não é pra gente raivosa
Nem pra cabra roncolho
Não se vê planta cheirosa
Tem espinhos de abrolho
Às vezes falta comida
Com sorte come repolho.
Já me deram muito tapa
Ficou roxo meu sobrolho
Quiseram me riscar do mapa
Juntei tudo num manolho
Para aproveitar cada etapa
Não quis ficar de remolho
Hoje nada me escapa
Nem o que está no refolho
Só quero da vida a garapa
E as portas sem ferrolho.