Quase Ela.

Nessa vida-torta

ela nasceu mulher

não caberia outro destino

mesmo brincando de ser menino

o coração teimoso, difícil

as unhas sem pintar

os cabelos presos

os lábios sem cor

cresceu assim

entre galhos de árvores

carros, cicatrizes e muros

com a alma presa numa gaiola de porcelana

pedindo liberdade

clamando por mais tempo

querendo voar sem rumo.

A bailarina pintada de sonhos

só queria ser viajante

a bonequinha com vestido de seda

só desejava sair da estante.

Mas o mundo tomou o coração à laço

pintou-lhe as unhas de vermelho-sangue

soltou-lhe os cabelos

e bordou a face tal rosa primeira do jardim.

A ela foi dado nada mais que um Amor de botequim

daqueles que entram, pisam e depois saem cambaleando

nunca se deu com as mais femininas

corria às ruas

sentava-se às mesas com companhias masculinas

sob olhares de julgamentos

mal sabiam eles que era ela daqueles rapazes, o mais sonhador

era atriz, de delicadezas grosseiras

de rudes sutilezas

fingia ser mulher

fingia ser flor

o Cravo bordado de Rosa

nessa vaguidão de mundo que a tudo mascara

num tempo qualquer que nem era seu tempo...

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 19/02/2015
Código do texto: T5142526
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