As guerras e as gentes do mundo de cá e de lá

Li no jornal:

A luta contra o Estado Islâmico custa em média 8,3 milhões de dólares por dia

Vi na tv e no site dos Médicos Sem Fronteira - MSF:

Com R$ 30,00 ao mês (R$ 1,00 por dia) cuida-se de 2 crianças desnutridas com menos de 5 anos de idades

Com R$ 60,00 ao mês (R$ 2,00 por dia) 1 pessoa vivendo com HIV/AIDS recebe tratamento que prolonga a vida

Com R$ 84,00 ao mês (R$ 2,80 por dia) 252 pessoas com cólera podem ser tratadas a cada mês

Com R$ 120,00 ao mês (R$ 4,00 por dia) 1.980 pessoas podem ser vacinadas em um ano contra meningite

Com R$ 320,00 ao mês (R$ 10,60 por dia) 74 feridos em área de conflitos podem receber antibióticos para infecções a cada mês.

Nos ventos escatológicos vêm a lâmina calcinada da fúria,

a mão pesada da sanha,

a mão de ferro da ira,

os dedos cheirando à pólvora

Senhor, as guerras se espargem em borrifos rubros de sangue seco

Senhor, as guerras são tantas e várias

e tontas espreitam morituris mortuis

Mata-se desde sempre

em nome de um deus,

em nome do engodo de uma liberdade (ensandecida e beligerante)

Sob a estultice de uma ideia

Para defender uma causa nobre(?)

Retalho da pobreza e da dor que a chuva de ogivas recrudescerá

Mata-se com honras de herói nas guerras

frias, quentes ou mornas

Nas guerras santas ou satanizadas

Guerra dos seis dias

Guerras dos cem anos

púnicas, medicas,

guerras, guerras, guerras...

A guerra é a ausência da palavra

e seus contrários

é a ausência de uma alma que sinta a essencialidade da luta interna

e de uma mente que pense, discurso e peroração

é a sombra por trás do homem

e sua mentira dulcificada pelo delírio narcisista do ego

e pelo desespero tácito e a ânsia por novas seitas, gurus e novos deuses

Na vida envelhecida e insone,

agônica e agonizante

quantos morrem na paz carcomida pela fome e pela miséria?

Outra guerra esta dos pobres esquálidos e imundos

que insistem em dividir sua sujeira e seu depaupério com o mundo

Estranha vida esta onde o homo dito sapiens não se comove,

não se inquieta, diante do desdém e da avareza verminativa

com que constrói sub-repticiamente seus castelos sobre abismos e indiferenças

Agora, além da primavera e seus sofismas,

é madrugada

A vida dorme

A natureza urdi o encanto, as cores e o perfume das flores que se abrirão com o dia

O homem...

maquina o seu próximo crime

a próxima invasão

o próximo ataque

o próximo alvo

envolto pela bandeira nacional

A morte, assim, faz menos mal?

Morrer pela mão do tédio alheio é tão fácil,

tão triste

tão surreal

Morrer, assim, é tão banal