Marias IV
Lá vinha ela, Maria,
com jeito eufórico;
lá vinha ela, Maria, com seu andar desconcertado.
- Ei Maria, pra ondes vais? De onde vens?
E Maria respondeu-me: - Eu vou além,
eu vou ali, eu vim de lá,
a vida é dura, desatinou-se a falar;
- Eu me revolto, eu me entorto,
eu me estraçalho,
eu tiro a lata da cabeça, eu me refaço,
tenho revoltas e eu dou voltas, eu tenho fé,
tenho coragem, eu sou mulher,
sou mensageira, eu sou da luz, eu sou fagulha
no infinito, eu sou a águia no horizonte, o amanhecer
mais bonito, eu sou estrela, eu sou guerreira,
sou leoa feroz, sou calmaria,
sou ventania, sou o relâmpago veloz,
eu sou o mar, eu sou as ondas, sou um navio mercante;
se a tempestade me desafia levo a embarcação
adiante, eu não afundo, eu ganho o mundo,
eu tenho amor e tenho paz...
E Maria se abaixou e a sua lata pegou,
num rebolado bonito a sua vida driblou;
então Maria se levantou e dessa vez bem mais forte...
Lá vai Maria, aqui e ali, ela está em toda parte...
Maria também é você que a poesia iluminou,
Maria é você que a poesia tocou...
Lá vai Maria, levando a lata sem desistir,
cantando alto, cantando forte, no seu caminho a seguir...
Mais uma vez me surpreendo ao encontrar Maria
e me despeço,
ouvindo o ritmo da sua coragem e melodia:
- Lata d’água na cabeça, lá vai Maria!