Retratando

Há milhares de cupins devorando tetos

Saboreando a alma das portas abertas

e os pés das mesas desertas

No vale das sombras há um lobo ferido

Perdido, exausto, interplanetário

Serrotes invisíveis cortando madeiras

Marcas de passos se perdendo na areia

Jardins de flores sedentas

Sonhos vestidos de escudos

Valsando entre as horas dos dias que findam...

Há uma consciência mancando,

devorada pelo inconsciente sonâmbulo

Grandes e foscas cortinas negras pendendo

Beijadas assim, inertes, pelo tempo

Poeiras adormecendo

Poeiras indiferentes

E na tempestade de estrelas agonizantes

reina embriagado o silêncio

No meio da sala sobrevive uma velha cadeira

Em seu topor, assiste passivamente

a esse cenário do fim dos tempos

O tempo menino desfila de sapatinhos azuis

Rola a bola sobre belas gramíneas

O jovem tempo robusto, ousa

Vestido de fantasias das mil e uma noites

Dança nos espelhos de cristais

Sussurra seus segredos e sua nudez

As luzes se apagam... adormeceu o tempo menino

As luzes se apagam... despediu-se o jovem tempo

E no final, é só isso:

as estrelas continuam caindo!

Simone Stone
Enviado por Simone Stone em 17/02/2015
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