Retratando
Há milhares de cupins devorando tetos
Saboreando a alma das portas abertas
e os pés das mesas desertas
No vale das sombras há um lobo ferido
Perdido, exausto, interplanetário
Serrotes invisíveis cortando madeiras
Marcas de passos se perdendo na areia
Jardins de flores sedentas
Sonhos vestidos de escudos
Valsando entre as horas dos dias que findam...
Há uma consciência mancando,
devorada pelo inconsciente sonâmbulo
Grandes e foscas cortinas negras pendendo
Beijadas assim, inertes, pelo tempo
Poeiras adormecendo
Poeiras indiferentes
E na tempestade de estrelas agonizantes
reina embriagado o silêncio
No meio da sala sobrevive uma velha cadeira
Em seu topor, assiste passivamente
a esse cenário do fim dos tempos
O tempo menino desfila de sapatinhos azuis
Rola a bola sobre belas gramíneas
O jovem tempo robusto, ousa
Vestido de fantasias das mil e uma noites
Dança nos espelhos de cristais
Sussurra seus segredos e sua nudez
As luzes se apagam... adormeceu o tempo menino
As luzes se apagam... despediu-se o jovem tempo
E no final, é só isso:
as estrelas continuam caindo!