o VENTO QUE PASSA...
O vento que passa...
O vento manso passa de leve
Sobre meus cabelos cor de neve..
E a ventania sopra,
Levanta poeira, folhas secas
Formando um rodamoinho.
Saci Pererê dentro do rodamoinho
Dando risada e assobiando
Um assobio fininho
Que zune nas folhas de bananeira
e assusta quem passa no caminho...
Lamentos de alma perdida
Implorando por salvação
Velhas fazendas mal assombradas
Do tempo da escravidão
cheias de lendas e estórias
Contadas por quem jura que viu
O “Quero cair”
Caíndo do forro do quarto
Batendo em pé no assoalho
Fazendo tremer as taboas
Como barulho de trovão.
...e o vento manso passa de leve
Nos meus cabelos cor de neve...
Trazendo lembrança das lembranças
Dos meus cabelos negros
De belas tranças
Balançando no balanço
Das folhas de coqueiro,
Do laço que laçava os bois,
E o boiadeiro aboiando na estrada
Onde passa boi, passa boiada,
Também passa moreninha
Do cabelo cacheado.
...e o vento manso passa de leve
Nos meus cabelos cor de neve...
E o trem de ferro
Correndo pelos trilhos
Como um dragão
Soltando fogo pela boca, rasteando pelo chão.
Os trilhos até balançavam
E a terra toda tremia
E eu tremia de medo e emoção
Quando o trem de ferro passava
E arrastava
Com ele minha vida
Numa viagem tão comprida
Que até hoje se estende
Como os trilhos do trem de ferro
Me balançando no balanço
Da terra que tremia
Do fogo que saia
Da boca do dragão.
...e o vento manso passa de leve
Nos meus cabelos cor de neve...