A ARIDEZ DAS EVAS
Na aridez das trevas
Ficam as Evas
A travar sangrentas guerras
Com seus conflitos
Solitários,
Com os delitos
E agressões a si mesmas,
Desejos reprimidos,
Úteros suplicantes,
Corpos sem toques...
Adormecidas sem sono,
Carentes de um dono,
Rastejantes à rudeza de seus dias,
Re-expulsas do Paraíso.
Os véus que usam não escondem seus rostos,
Escondem seus desgostos,
As trapaças que se fizeram...
As saias longas disfarçam seus cravos
De bestas marcadas mas dispersas,
Supliciadas em suas cruzes,
Expostas a um sol escaldante
E indecente!
Corações secos,
Elas perdem-se em miragens,
Sem mapa para os oásis,
Febris.
É possível a vida
Sem nunca ser quista e tomada
Com amor?
Capengam em círculos pelo deserto,
Destino incerto,
À espera de um homem,
Que talvez esteja por perto...
As tempestades de areia
Mudam a posição das dunas,
Formam novas colinas áridas
Na paisagem e nas Evas.
O príncipe na giba do camelo não chega.
Elas se rasgam, sucumbem, choram,
Cortam a garganta e a voz,
Praguejam mas resignam-se,
Enquanto anelam chegar-lhes a vez,
O ensejo fortuito e libertador,
Na roda da sorte
Ou no alfanje da morte.
Nota: são corretas as formas "alfanje" e "alfange", do árabe al-handjar (= sabre).