SONETOS COMEMORATIVOS

AO MEUS PAIS PELAS BODAS DE OURO

I

Balbuciando a ritual resposta,

Do altar em frente às luzes gloriosas,

Ao noivo altivo trêmula se encosta

A noiva, envolta em sedas perfumosas.

Depois, vencendo o Fado que os arrosta,

As mãos entrelaçando carinhosas

Subindo vão da Honra a longa encosta,

Por entre espinhos e por entre rosas...

E até hoje chegaram passo a passo,

Juntos cantando do Trabalho os hinos,

Marchando ao mesmo triunfal compasso...

Felizes dos que assim, de fronte erguida,

Sem culpa e sem temor, quase divinos

Galgam sorrindo os píncaros da Vida!

II

Passa um ano, outro ano; e as primaveras,

Como de pombas um volúvel bando,

Vão fugindo uma a uma, asas ruflando,

Para a pátria encantada das quimeras.

E chaga o Outono, célere deveras,

Nublando os céus, os bogais murchando...

Lá vem o Inverno... e o coração chorando

Respira o aroma das passadas eras...

E alva nos cai das ilusões perdidas

A cinza que os cabelos nos empoa,

Ao embate das mágoas e das lidas.

Mas, um consolo resta, apetecido,

Que dentro d'alma uma aleluia entoa:

A Paz celeste do dever cumprido.

24 de junho de 1919.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 12/02/2015
Reeditado em 12/02/2015
Código do texto: T5135040
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