SONETOS COMEMORATIVOS
AO MEUS PAIS PELAS BODAS DE OURO
I
Balbuciando a ritual resposta,
Do altar em frente às luzes gloriosas,
Ao noivo altivo trêmula se encosta
A noiva, envolta em sedas perfumosas.
Depois, vencendo o Fado que os arrosta,
As mãos entrelaçando carinhosas
Subindo vão da Honra a longa encosta,
Por entre espinhos e por entre rosas...
E até hoje chegaram passo a passo,
Juntos cantando do Trabalho os hinos,
Marchando ao mesmo triunfal compasso...
Felizes dos que assim, de fronte erguida,
Sem culpa e sem temor, quase divinos
Galgam sorrindo os píncaros da Vida!
II
Passa um ano, outro ano; e as primaveras,
Como de pombas um volúvel bando,
Vão fugindo uma a uma, asas ruflando,
Para a pátria encantada das quimeras.
E chaga o Outono, célere deveras,
Nublando os céus, os bogais murchando...
Lá vem o Inverno... e o coração chorando
Respira o aroma das passadas eras...
E alva nos cai das ilusões perdidas
A cinza que os cabelos nos empoa,
Ao embate das mágoas e das lidas.
Mas, um consolo resta, apetecido,
Que dentro d'alma uma aleluia entoa:
A Paz celeste do dever cumprido.
24 de junho de 1919.