Alcoólatra,
homem insensível
e frio.
Na rotina, vivia embriagado.
Nos poucos momentos de sobriedade,
era agressivo e mau humorado.
Não poderia ser decifrado.
Eu não consegui me aproximar
de sua essência.
Contudo, nela, traduzi o amor que eu sentia
em poesia.
Quando bebia ele era bom,
meigo e carinhoso.
Disperso, esbanjador, irresponsável,
sonhador, empreendedor.
Meu coração vivia aos sobressaltos,
minha alegria congelada,
minha luta redobrada.
Ele sempre brincando de viver,
até que um dia vim a descobrir
que quem estava brincando de viver
era eu, pois ele vivia seriamente uma
vida dupla, com sua amante.
Meu casaco de visom passou a
ornar o corpo de sua amante, assim como, também, as
minhas joias.
Eu fui roubada, ultrajada, enganada
e traída.
Quando descoberto, se vitimizar, busca todas as desculpas para
Se justificar.
O que acabou entre nós foi o que, na verdade, nunca
existiu.
Durante toda a nossa longa vida em comum,
vivemos os três:
Eu, ele e a bebida.