destituição

Ariana das máscaras e nomes não segura tuas vestes num ímpeto de sandice, rindo e chorando ao mesmo tempo, nem mesmo a mulher reluzente que de longe te seduz com uma palavra mágica e que te leva no regaço uma, duas, três vezes por semana, fazendo-te crer que não há nada ali, Túlio, como és tolo, de quê te adiantou a habilidade com as palavras se por aqui já te leram por dentro e do avesso? não consegues sair de ti.

desde o negrume é que seguram tuas vestes até machucarem os pulsos, pintam as paredes de sangue com ódio de ti, Túlio, e quando já não suportam tua ausência, rasgam tua imagem em pedaços gritando mil obscenidades, ofensas e maldições; ontem concordamos em remodelar em silêncio a tua estatura e recosturar todos os retalhos. já não existes nesta mesa, mas ainda te sentimos pelos cantos da nossa existência, mórbido e indiferente, com teu cheiro de café com perfume e há muitas mentiras também, palavras, palavras, e todos aqui nos rebelamos, Túlio, porque te adoramos um dia, mas de ti recebemos apenas um copo quebrado na cara e miçangas, milhares, cada uma carregando um pouco do teu desdém e o pior é que somos tão bestas que fizemos colares e brincos e demos para as moças dançarem e os moços também estão vestindo os colares e brincos, e todos aqui carregam o teu desdém no corpo com muita alegria, vês? não te apraz o festival, as cores, o coral, o verde, o azul? estamos todos adornados e enfezados tal qual putas abandonadas, estamos arranhando as paredes e os homens escrevem TÚLIO com pinças e facas na parede, as mulheres bordam na pele o teu nome com giletes. até deus sentiria tantas odes e insalubridades, mas tu, homem, és de matéria diversa e de sentidos deletérios, já não és mais dionisíaco. onde quer que estejas, é nesta era de artificialidades que irás reinar, distante de tudo e de todos e assim as palavras e apenas elas farão do mundo teu lugar. cá entre nós, quando perceberes, terás perdido a sensação das mãos e o querer dos beijos, não poderás tatear nem nossas cicatrizes, tampouco o teu nome tantas vezes lapidado nos concretos.