APENAS CHOVE...
Apenas chove
e eu fico olhando a chuva...
Quanta simplicidade!
Nunca pensei que chegasse a esse ponto
de ficar olhando a chuva...
Só eu e ela...
Só que ela não precisa de mim,
mas eu preciso dela.
Mas não olho a chuva porque preciso dela,
mas penso que é porque somos tão iguais!
Só agora percebo...
É porque às vezes deságuo
em meus versos
e corro pelas ruas cheias de folhas.
De velhas folhas...
Sabe essas velhas folhas do passado?
Essas folhas em cujos veios tem uma história?
Mas também corro pelos campos.
Necessariamente os velhos campos
de minha infância onde já existiram
gabirobas e margaridas...
Às vezes também encho rios.
Excentricamente o meu velho rio
que para mim termina na velha ilha
porque ele não chega ao mar,
mas deposita seus seixos
bem aqui em meus poemas.
E sabe mais? Às vezes escorro pelos beirais
dos telhados e caio em folhas brancas.
É porque acho lindo essa coisa
de fazer barulho nas calhas de zinco,
especialmente se eles forem
de velhas casas do passado...
É porque sou saudosista...
Mas eu e a chuva somos seres poéticos
embora ninguém ainda tenha percebido.
De fato, nunca pensei
que chegasse a esse ponto
de ficar olhando a chuva sobre esse prisma...
Mas é que esse verão é diferente
e não sei dizer exatamente por quê
a chuva tem me penetrado a alma...
Mas talvez seja porque
“estou sendo: uma camponesa
que está num campo onde chove”
como disse Clarice Lispector.
De qualquer forma é tão bom
pensar que apenas chove...
E eu fico olhando a chuva...
( Imagem: google)