O OBSERVADOR À JANELA

Madrugada suada, insone, super aquecida

Abro a janela como quem descortina a vida

Vejo o céu inerte, estrelado,

Como uma escultura, um teto rebaixado

Tento tocá-lo com as mãos...

No rádio toca uma melancólica canção

A cantora encanta com voz rouca, embriagada, emocionada

Instintivamente acompanho-a no refrão

...What’s the matter baby? What’s the matter baby?

Pulsa em mim um coração cheio de tristezas e lamentos

Lembranças de um dia mau...

Trânsito engarrafado, acidente, transportes lotados,

Calor insuportável, tiroteio, tumulto,

Viciados amontoados sob o viaduto.

Calor insuportável!

Na janela escancarada grito ao vento:

__ Por que tudo é tão frio, por que tanta falta de sentimentos?

Reticências, silêncio. Reticências são as repostas.

Mas há resistência para quem realmente goste de viver

Para quem ainda brinda à vida a cada amanhecer,

A cada nascido de novo, a cada novo nascer.

Se não resistirmos, nem precisamos nos esconder à sombra

Pois somos capazes de ser tão frios, que até o Sol se assombra.

Sentes o calafrio?