PAULO

envenenado pelo próprio veneno

paulo pôs-se a chorar em plena rua

achando que ali começava seu funeral

caminhando lento sob o sereno na cabeça nua

via-se perfeitamente a meio metro do umbral

enganado pela própria mentira

paulo insistia em culpar a última cerveja

que agora lhe voltava à boca em dardos amargos

sozinho sob o céu que com estrelas Deus craveja

sonhava sonhar que escapava daquele pavoroso letargo

apavorado pelo próprio saber

paulo queimava livros na mente para perecer são

mas em vez de fumaça o que lhe saia eram letras

perdidas ao acaso misturavam-se à sujeira do chão

para depois subirem aos céus entre morcegos e borboletas