FRUTOS

“Acordo cheia de frutos.

Quem os colherá?”

( Clarice Lispector)

Dentro da casa está escuro e frio.

O caminhão da mudança encostou na porta

E levou tudo.

A casa está vazia

E há rachaduras nas paredes

E umidade infiltrando-se pelos cantos.

Alguém esqueceu um sapato,

Um prato, a capa de um livro,

Um disco.

O piso mal conservado guarda passos

Mansos, fortes, indolentes,

Apressados passos.

Os quartos apertados guardam sons

Macios, mornos, roucos, agressivos,

Bem-amados sons.

O telhado oculta sombras

Passageiras, leves, mensageiras,

Torturadas sombras do que foi.

No quintal, cajus amadurecem em vão:

Ninguém os colherá.

E há flores pelo chão que alguém pisou

Talvez sem ver que havia flores pelo chão.

Dentro da casa está escuro e frio

Mas o sol penetra a sombra, sob a porta,

E brinca fantasias nas paredes nuas.

Cliz Monteiro
Enviado por Cliz Monteiro em 04/02/2015
Código do texto: T5126070
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