FRUTOS
“Acordo cheia de frutos.
Quem os colherá?”
( Clarice Lispector)
Dentro da casa está escuro e frio.
O caminhão da mudança encostou na porta
E levou tudo.
A casa está vazia
E há rachaduras nas paredes
E umidade infiltrando-se pelos cantos.
Alguém esqueceu um sapato,
Um prato, a capa de um livro,
Um disco.
O piso mal conservado guarda passos
Mansos, fortes, indolentes,
Apressados passos.
Os quartos apertados guardam sons
Macios, mornos, roucos, agressivos,
Bem-amados sons.
O telhado oculta sombras
Passageiras, leves, mensageiras,
Torturadas sombras do que foi.
No quintal, cajus amadurecem em vão:
Ninguém os colherá.
E há flores pelo chão que alguém pisou
Talvez sem ver que havia flores pelo chão.
Dentro da casa está escuro e frio
Mas o sol penetra a sombra, sob a porta,
E brinca fantasias nas paredes nuas.