FLOR DO SERTÃO

Escutei o tempo chegando

Todo vindo sem malícia...

A me imunizar do engano

Das belezas fictícias.

A poesia é diária

Vem da terra fustigada

Toda em verso adubada.

Surpreendo-me a cada instante!

Em novo verso estonteante...

E se o tempo vai-se embora,

Nova flor em mim aflora.

Não sou flores fictícias

Que esvaecem ao vão da brisa.

Sequer sou ervas daninhas

Em falso porte de rainhas...

Vi de tudo na estrada

Que seguia empoeirada

A debalde, maltratada.

Eu vi flor espoliada

de raíz semi-arrancada.

Eu vi cactos malfadados

nos destinos semi-áridos!

Todo o belo fictício

vi murchar de improviso.

Espiei minha flor por dentro,

a procura de alento...

Floresci entendimento.

Toda flor que é verdadeira

Refloresce a vida inteira

Na poesia costumeira.

Da terra desvitalizada

Desplantei a flor rachada

Condenada a morrer,

Jorrei água das vertentes

Levatei-me em sol nascente

Para a flor não fenecer.

Qual bondade da mãe d'água!

Aflorei a terra rachada...

Tudo a reflorescer.

Sem caminho de armistício...

O tempo versa comigo

Somos dois a aprender:

Que do tudo fictício

Nenhum verso faz sentido:

Só é poesia a doer.